domingo, 23 de outubro de 2011


Os azulejos eram brancos marcados por um amarelado deixado pelo tempo. “Será que ele demora a chegar?”, pensava. Ele havia acordado mais cedo e saíra para comprar pães e resolver alguns problemas. A chaleira apitava indicando que a água já havia fervido, mas ela não se levantou para fazer o café. Ficou apenas sentada, com o rosto apoiado nas duas mãos e com o olhar perdido no relógio que haviam pendurado na parede, perto da janela. Fazia um dia lindo lá fora. Pena as horas demorarem tanto a passar.
Tentou desviar um pouco a atenção do tempo e passou a mirar um porta-retrato muito antigo e que nunca havia saído daquele lugar: a mesinha de centro. Como não reparara nisso antes? “Que foto mais antiga!”, pensou em voz alta. Talvez fosse esse o motivo de aquele objeto nunca ter saído dali…Coisas antigas sempre trazem lembranças e, para ela, qualquer lembrança dele era boa (mesmo as que você consideraria ruins). “O que é que estávamos fazendo mesmo nesse dia?”, tentou lembrar-se de como estaria o tempo naquela tarde… Tentou imaginar no que estariam pensando para tirar uma foto tão boba como aquela. Pensando bem, aquela foto nem era tão boba assim… Fazia com que ele parecesse tão criança e tão homem ao mesmo tempo! Pensou que era por isso que estava lá; para lembrá-la do que a fez apaixonar-se por ele. Então não a tirou do lugar.
Voltou a olhar para o relógio: apenas dez minutos haviam se passado desde que ela perdera-se dentro de sua própria cozinha. “Não acredito! Por que será que tudo fica tão lento sem ele por perto?”. Sentada, ali, naquela cadeira gélida e um tanto dura (que combinava perfeitamente com a mesa de centro); voltava a encarar o relógio. Enfim, foi vencida pelo cansaço e adormeceu debruçada sobre seus próprios braços. 
Passados alguns minutos, é acordada de súbito pelo entreabrir da porta da sala. Ele chegara. Sabia que era ele. O seu coração palpitava; parecia bater no compasso de seus passos. Aquilo parecia não mudar; não importa quanto tempo passasse, aquele “tum-tum” parecia que ia escapar-lhe para fora do peito.
- Demorei? - perguntou ele
- Não. Na verdade, nem percebi que você havia saído.  

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